Capítulo 2
Acordei
em um quarto enorme, talvez o quádruplo da minha casa, cresci num
acoplado da casa de minha avó e sempre foi uma humilhação pessoal
já que meus pais nunca se interessaram nem em arrumá-la, a casa
sempre esteve para as baratas e a bagunça, contudo esse quarto em
que me encontrava agora era enorme a cama caberia unas 8 pessoas,
nesse momento lembrei das amizades que deixei para trás, mas que
talvez nunca tenham sido amigos, na minha fantasia quis acreditar ter
amigos e no meu egoismo quis acreditar que eles se importavam, mas
acho que todos sempre querem ter seu momento, aquele segundo em que o
mundo gira, um segundo só para você e ai você acorda e percebe que
não, pois você é só mais um inútil, talvez por esses pensamentos
sempre estive só, como estava agora neste quarto.
Havia
uma grande janela e pelo que dava para perceber uma varando, sempre
fui fã de varandas uma das coisas que mais me encantava em viajar
era apreciar a arquitetura das cidades, principalmente as
arquiteturas que me recebiam com uma bela varanda, e a daquele quarto
também era algo para me tirar as palavras era simplesmente
indescritível, mas reparei que tinha uma escrivaninha, o que para
mim já era mais que suficiente e uma estante com todos os meus
livros, outro encanto. Depois, um pouco a esquerda da janela, vi duas
grandes portas e um pouco mais afastado uma grande porta que acredito
era a saída do quarto.
Me
aprecei em ir até a janela, mas não tinha dado atenção
inicialmente para o fato de estar nua e não avistar minhas roupas,
comecei a procurar e nada, nessa procura achei minhas gatas que
dormiam numa caminha para gatos bastante confortável e na primeira
porta achei o guarda – roupa, nada de muito especial apenas alguns
vestidos e me aprecei logo em vestir, o primeiro que peguei para
minha sorte coube perfeitamente o que me surpreendeu já que nunca
fui magra, com exceção de dois vestidos todos eram de cor escura o
que me agradou muito.
A
outra porta ficava fechada, achei estranho pois jurava ser o
banheiro, então fui dar uma olhada na varanda, parecia um sonho que
virava realidade a vista era perfeita, o que avistava era magnífico
um enorme lago e ao longe uma floresta, mas pelas poucas cores que
via acredito ter uma cidade ou vila em seu meio, o que me deixou
ansiosa
para explorar o lugar, mas acho que primeiro deveria conhecer a casa,
quando olhei para baixo percebi que deveria estar a uns cinco metros
de altura, mas quando voltei para dentro, Rió estava sentado na
cama, me esperando.
-
Impressionante, não? - Ele me questionou.
-
Definitivamente! É incrível, eu espero ter a chance de conhecer um
pouco desse lugar.
-
Vou tera a vida toda para conhecê-lo, ele é seu.
-
Como?
-
Esse mundo todo é meu, logo é seu também.
-
Mas pelo que entendo de nosso primeiro encontro, você tem outros
filhos.
-
É deles também. Mas devo algumas explicações a você antes de
começar a lhe mostrar a casa e resto da família. Primeiro, o motivo
de você ter nascido em outra família e pior, em outro mundo, quando
você tinha poucos dias, foi culpa de seu Avô por parte de mãe, que
resolveu entrar em guerra comigo pela sua guarda, ele achava
inaceitável alguém de sua linhagem ser criado em outra cultura, com
outros costumes.
"Não
foi um problema para sua mãe que estava disposta a se mudar para
este mundo que estamos agora e recomeçar sua vida, mas seu Avô não
via dessa maneira e se sua filha queria viver isso era problema dela
e sua neta nada tinha a ver com isso, sua mãe se recusou a lhe
entregar a seu Avô, de qualquer forma, quando seus Guardiões
chegaram aqui para levá-la, sua mãe lhe colocou no seu Dragão, que
a levou para um mundo que não estivesse em guerra, pelo menos de
forma temporária e o Dragão dela cuidou do resto, escolheu uma
família em que o bebê estivesse nascido morto e lhe colocou no
lugar do corpo morto, junto com um feitiço de proteção, assim você
cresceu naquela família que na minha opinião, já sabia da verdade
bem no fundo.
O
tempo passou normalmente para nós, mas o mundo onde você estava o
tempo gosta de ser apressado e quando percebemos você já tinha 13
anos, mas eis que aconteceu um acidente com sua irmã mais velha que
me levou a adiar seu retorno para casa, Lireia, eu realmente sinto
muito, pela demora, mesmo adiando seu retorno para casa, não foi
possível conseguir a ajuda que sua irmã precisava e quando
percebemos você já estava com 17 anos, o que foi frustrante pois
mesmo não pertencendo aquele mundo seu corpo se adaptou para crescer
de acordo com os costumes deles, e agora você tem 18.
Sei
que devo ter soutado tudo de uma vez, mas a dias que busco as
palavras certas e nada, então optei por falar tudo de uma só vez,
desculpe, não sou bom em preparar o emocional dos outros para
situações assim."
Fiquei
apenas parada feito boba encarando o Rió, processando toda a
informação, certo fazia sentido sim, claro afinal eu já havia me
beliscado catorze vezes desde de que ele começou a contar a história
e tudo parecia fazer sentido para aquela realidade.
-
E onde está minha mãe agora?
-
Seu Avó ameaçou a própria vida caso ela não voltasse para casa
principalmente depois de perder a
neta,
ele me culpa até hoje pelo seu desaparecimento, para nós é como se
não tivesse se passado 3 anos, mas no mundo em que estava, o tempo
parece odiar seus habitantes, é só olhar para você que tenho a
prova disso.
-
Sim, realmente a gente se olha no espelho e parece já ter se passado
10 anos, que por sinal me parecem muito mal aproveitados.
-
Concordo, mas aqui o tempo vai voltar a você em forma de
conhecimento, vamos lhe ensinar tudo o que pudermos, e com suas
experiências já vividas tonho certeza que sua mãe ficara muito
satisfeita quando lhe reencontrar de novo.
-
E isso será logo? - Sinceramente espero que não, minha mãe de
outro mundo e eu nunca fomos muito bem chegadas.
-
Espero que sim, afinal ela já recebeu a mensagem de que você está
aqui, no entanto ela ainda não aceita o fato de não ter tido a
chance de te criar.
-
Ela tem um Dragão de estimação?
-
Tudo a seu tempo. - Foi tudo o que obtive dele.
“Mas
eu também queria um dragão”.
Com
isso ele se levantou e me indicou a porta para sairmos, os corredores
pareciam nunca acabar e a luz era fornecida por diversas janelas que
seguiam todo o caminho, havia muitas fotos de crianças, no decorrer
que avançávamos, e ele nada disse dos quartos ou salas, ou seja, lá
o que fossem.
-
Vou lhe mostrar apenas o que acredito te interessar, passamos por
muitas salas e quartos vazios, caso queira utilizá-los para alguma
coisa, lembre-se apenas de informar a Seymi, sua irmã, ela é um
pouco controladora, mas tirando esse defeito ela é um amor de
pessoa, de filha e logo você descobrirá que de irmã também.
Finalmente
chegando na escada começamos a descer, mas percebi que a mesma
também ia para cima, esperei, pois achei que depois ele me
mostraria. Ele me mostrou a sala, onde a família se reunia para
conviver, seguido da sala de jantar, cozinha, apesar de grande,
eramos nós que cozinhamos, o que me deixou preocupada já que não
sou muito de cozinhar, sempre fui péssima, no caminho avistei o
homem que lembrava muito um samurai ele estava sentado meditando.
-
Há, ali é a sala de treino e aquela de meditação, logo a frente a
biblioteca, temos duas uma de uso pessoal meu, e outra para vocês,
mas caso queira uma só para você, temos muitos quartos vazios por
hora, sinta - se a vontade, eu quase nunca estou em casa, pois tenho
assuntos para resolver ao redor desse mundo ou em outros, mas sempre
deixo informado a data de viagem e retorno e destinos, com Briareu.
-
Todo bem! Existe jardim aqui?
-
Tudo o que você viu ou vê é nosso jardim.
Fiquei
sem palavras, mas prosseguimos até a sala de jatar, onde os outros
nós aguardavam e pude finalmente conhecer todos os irmãos, cada
qual com seu nome excêntrico, comecei a achar o meu lindo.
De
todos os irmão pude perceber uma certa antipatia por parte de Semic
e Briareu, ambos fechavam a cara para mim, também conheci Fekaíl,
ela tinha ar de inteligente, e realmente era. Ela usava óculos, era
ruiva, um pouco mais alta do que eu, que media 1,71, tinha feições
mais fechadas, contudo sorriu para mim, mas se manteve em silêncio e
começou a ler seu livro seja lá sobre o que se tratasse, talvez
interessasse mais a ela do que a mim.
-
Lyreia,
você gostaria de comer alguma coisa? - Perguntou Seymi.
-
Não, obrigada. - Na verdade estava com muita fome, mas não queria
dar trabalho para ele já que pareciam me odiar, não Seymi é claro,
mas Briareu me incomodava muito com seu olhar acusador e Semic que
parecia querer que eu sumisse dali logo, ficamos um logo tempo em
silêncio até que vi na parede a foto de uma menina de cabelos
negros e muito bonita, ele vestia um vestido negro em estilo gótico,
parecia um anjo negro, seus olhos eram viletas como os de Briareu,
que agora se encontrava atrás de mim com um olhar sério e parecia
me odiar mais que o normal.
-
O que está olhando?
-
A menina da foto. - Respondi já esperando o pior.
-
Não é ninguém, agora volte para o seu acento.
-
Não é por nada, mas não vejo nada de mais ficar de pé aqui. -
Rebati.
-
Faça o que eu digo, e mais importante não fique xeretando por ai ao
vou dar um jeito para que nunca mais ande por ai, também.
-
Como
se você mandasse em mim. - Tava começando a me irritar. E como
assim também?
-
E
quem você pensa que eu sou?
-
Um intrometido e desocupado, que não me conhece e que eu não
conheço e nem faço questão, afinal aposto que você fiaria muito
melhor se eu não tivesse nascido para atrapalhar sua vida perfeita…
-
Cale-se! Você...
-
Já chega. - Fomos interrompidos pelo Rió que naquele momento surgiu
na sala e parecia bem irritado.
Para
mim estava claro que se deixasse ele me defender eu seria agora
tratada por Briareu como a queridinha do papai, aquele idiota, então
sai da sala mesmo sem permissão já que quando estava saindo ouvi
Rió me pedindo para parar o que não fiz, corri
o mais rápido possível por um corredor que
ainda não conhecia e cheguei a uma grande porta, empurrei com toda a
minha força e ela era bem pesada, mas logo consegui sair, agora me
encontrava na entrada da casa e conseguia ver a magnitude do lago e
da floresta que se apresentava majestosa atrás dele.
-
Lireia! - Não olhei para trás estava com muita raiva, mas era
Seymi.
-
Seymi, o que foi?
-
Não fuja, por favor você ainda não conhece esse mundo e prometo
que vamos sair e conhecê-lo peço apenas que tenha um pouco de
paciência com Briareu e você ainda não conheceu um irmão.
-
Que está faltando?
-
Zairon,
é ele que vai te treinar. E pode não parecer mas é o caçula
depois de você.
-
Acho que o vi meditar.
-
Sim é ele mesmo, você vai ama - lo e tenho certeza que ele também
já te ama.
-
Mas ele chegou a me conhecer para me amar?
-
Todos nós chegamos a te conhecer, meu amor.
Bom
numa coisa Rió tinha razão, Seymi era muito carinhosa e parecia
muito agradável ficar perto dela e foi o que eu fiz durante o resto
do dia, fiquei perto dela e evitei olhar para Briareu ou Semic.

