para
Crianças Peculiares
"Eu estava deitado no divã, observando um aquário que ficava no canto, seu único prisioneiro dourado nadando em círculos preguiçosos."
"... . Não nós falávamos desde de o dia em que ele tinha me empurrado do telhado, mas nó dois compreendíamos a importância de manter a ilusão de que tínhamos amigos. ..."
"Também amo você, quis dizer com o sarcasmo mais doloroso que pudesse reunir, mas ela não tinha me visto e mantive silêncio.Eu a amava, é claro, mas em grande parte porque amar a mãe é obrigatório, não porque ela fosse alguém que eu achasse que gostaria muito se conhecesse andando na rua. O que ela não faria, de qualquer maneira; andar é para pessoas pobres."
"- Tenho uma pergunta - falei. - O que é um buraco de pau... quer dizer, padre?
- Ora, é um buraco para padres, claro!..."
"- Quando alguém não o deixa entrar, você acaba parando de bater. Entende o que quero dizer?"
"É sua? Era isso que você levava no trem na última vez em que viu sua mãe e seu pai, quando sua primeira vida chegava ao fim?"
"... . Eu me levantei e fui até o vidro rachado, constatando que lá fora chovia e fazia sol ao mesmo tempo, uma pequena bizarrice meteorológica que ninguém parece concordar qual a melhor forma de denominá-la. Minha mãe, não estou brincando, chama isso de "lagrimas de órfãos".
"- As vezes, meu jovem, você anda numa linha muito tênue entre ser um rapaz interessante de personalidade muito forte e um cabeça dura terrível. ..."
"Todos nos aproximamos dele sem sair de nossos bancos, como se fosse a hora da historinha em um jardim de infância incrivelmente mórbido."
"- Através de seus tecidos e peles, os sumos do inverno o digeriram. As raízes iletradas refletiram e morreram no vazio de seu estômago. Jazia a espera no fundo do cascalho, o cérebro escurecido, uma enorme ninhada fermentada sobre a terra, e se ergueu das trevas, ossos partidos, os pontos soltos, pequenos brilhantes na margem.
...
- Como se vertesse alcatrão, ele parece chorar o rio negro de si mesmo. A textura de seus pulsos é igual ao carvalho das charnecas, seu calcanhar um ovo de basalto. Os quadris parecem a concha de um marisco, a espinha, uma enguia presa sob uma camada de lama reluzente."
"... . As estrelas também eram viajantes do tempo. Quantos daqueles pontos de luz antigos eram ecos de sóis atualmente mortos?Quantos tinham nascido, mas sua luz ainda não chegara tão longe?Se todos os sóis menos o nosso fossem destruídos hoje, quantas gerações se passariam até que percebêssemos estar sozinhos? Sempre soube que o céu é cheio de mistérios, mas só naquela noite eu me dei conta da quantidade deles que havia na terra também."
"Partimos na direção da colina. No ponto mais alto do cume onde eu sempre parava para olhar para trás e ver a distância já percorrida, desta vez não parei. Acho que estava com medo de fazê-lo."
"Eu costumava sonhar em fugir da minha vida comum, mas minha vida nunca havia sido comum. Simplesmente não conseguira notar como ela era extraordinária. Da mesma forma, nunca imaginei que a minha casa poderia ser algo de que eu sentisse falta, mas, quando estávamos carregando nossos barcos ao amanhecer, ... . E percebi que partir não seria como havia imaginado, como me livrar de um fardo. A lembrança deles era algo tangível e pesado, e eu levaria sempre comigo."
Atenciosamente, Juliana Osty!



